Como revolucionar?


Se a fome bate nas panelas
Muito mais que três vezes por dia
Se as letras só chegam para tomar o coletivo
Para os livros elas caminham na escuridão
Se os números servem para dizer que ou se leva um osso ou três ovos trincados e zero de farinha e muito menos  feijão
Mas eles diminuem para somar um mais um mais um mais tu mais eu  mais nós mais eles mais voz até multiplicar uma  multidão.

É preciso:

Bater palmas enquanto arrancamos pedras
Brindar e cantar à saúde dos senhores
E preparar coquetéis entre o sono e a sirene fabril
Mostrar gratidão pelo soldo de miséria
Afiando as facas e lanças
Esculpindo as bordunas
Amarrando bodoques
Acima de tudo
Aprender a ser ferrugem, umidade, areia, gotejo, cupim e maresia
Tudo o que cresce nas frinchas

Para explodirmos em primaveras
Para raiarmos liberdade
Para abraçarmos nossos horizontes.

Adriano Chastel



Escriturário

Eu escreverei
Mesmo com a vista turva de tantas lágrimas duras
Escreverei e escreverei
Mesmo com mãos trêmulas
Diante da opressão que nos avança de ofício em cada artigo, parágrafo, inciso e injusta sentença.

Escreverei pois
A escrita é única forma de lutar que me veste
Existem outras , eu sei
Mas elas não têm a doçura cortante da frase riscada no muro
A sagacidade sutil de suturar almas feridas
A implacável resistência ao transbordar fronteiras

Sou combatente com predicativos, conotações, pró posições populares..
A escrita chicoteia esse mal
Que nos cerca, nos espreita e caça
Esse que deseja nos moer, moldar, cozer e no fim nos dar aos cães para roer.

Vou escrever até que o sol traga frescor e primaveras
Para cada flor caída, nos campos, indústrias, escolas, bordéis, igrejas, ocas , malocas e vielas.

Escreverei

Adriano Chastel

Desejos noturnos para o alvoroçar

Quero devastar os intermináveis campos verdes inférteis
De grãos, gados e dólares
Que só produzem papéis e ações.

Campos de fome e escravidões diversas

Quero arrastar na lama de vidros e farpas essa gente perversa
Que em uma mesa brega
Cheia de hienas velhas e velhos abutres
Plantam misérias e colhem fortunas
Entre tigelas de maldade e colheradas sarcásticas.

Gente vil, de gravata e chibatas.

Quero acorda meu povo
Desse ópio ótico televisivo
Quero corroer com palavras de doçura ácida
Essa algema-tela, esse cabresto cibernético
Esse feitor que nos obriga a olhos baixos e voz tabuada.

Se não há nas mesas macios pães
Que tenhamos pedras nas vidraças!

Quero incendiar
Mercados que vendem futuros
Levantam muros
E dizem que o mérito e o luxo é para quem trabalha duro.

Vamos !!
Quem labuta muito
Quem não tem tijolos
E tem um futuro de séculos passados
Vamos !!!
Não há balas e bombas para nós
Cento e noventa e cinco milhões de invisíveis.
Vamos !

Adriano Chastel.

Não é sangue, é moral.

Meus tais parentes de sangue
Apoiadores do genocida
Ou seguros sobre o muro
Tentando provar que, ou era 6,
Ou meia dúzia
Que dúvida !!!!

Arrependidos,
Se dizem enganados
Querem caminhar ao meu lado
Aviso:
No chão que eu piso
Não dá pé para indecisos
Nas curvas que minha vida trilha
Não há vão para minúsculos fascistas.

Arrependimento
Não traz centenas de milhares
Que partiram por 1 dólar a mais na vacina

Se dizer “enganado”
Não ajuda o pai que chora escondido
Ao ver a cria que afina sem arroz no prato

A “difícil escolha”
À mãe que enterrou seus filhos, não consola
Deixou uma geração de órfãos , País a fora
Embora só haja até hoje,
uma boa opção, meu bom cidadão.

E tem aqueles que se dizem de cristo
Que prezam pela tradicional família
Que comem hóstias ou estudam a bíblia, aos domingos.

Há vida na hipocrisia?

Meus irmãos, na mesma teologia fomos criados
Aquela que liberta, e que faz acolhida
Hoje nos mesmos terreiros sagrados
Somos benzidos
Em qual desses espaços santos
Com a morte foram vocês catequizados ?
Eu em nenhum,
E se estiver mentindo
Que me corrija Exu ou Xangô ou Ogum.

Nosso pai foi grevista
Abraçou os seus, no movimento paredista
Não se vendeu, nem foi pelego, ou capacho
Hoje com toda certeza é tido, comunista
De uma coisa tenho certeza
Nunca foi fascista, genocida, armamentista ou qualquer um dessa gente sem valor

Arrependidos!
O exemplo da escolha única e certa
Dividiu com vocês a ceia de domingo
É homem de Cristo
De coração puro
Deveria ser para vocês, tudo o que é justo !
Mas o voto de vocês, para ele e para o povo foi muito mais que um insulto
O voto é a morte, a fome e o luto.

( O perdão será divino, se o divino existir. Eu sigo como sempre segui )

Adriano Chastel.

Andrajos livres

As fardas não me cabem
Elas marcham ornadas de pré- juízos
estampadas de sentenças
Urdidas de violência gratuita
Tingidas de opressão e vilania
Capachas da burguesia e do poder.

Oprimem os que passam fome
E os que produzem os cobres
Matam sonhos que ainda esperavam nascer
Apagam memórias
Enterram verdades.

Cantam hinos hostis
Bradam seus gritos dementes
Se consideram a elite da tropa
São jagunços mal pagos e mal nutridos
Capitães do mato do capital e dos figurões do estado.

Eu prefiro a nudez das palavras sinceras
Eu prefiro a casaca remendada de poesias
Eu prefiro os trajes do loucos
E andar com malditos
Eu prefiro o fardo de ser pensante e livre !!

Adriano Chastel

#antifascista

Clã sem medo

Andamos vestidos de medos
Essa tessitura de fomes, desemprego, desocupação, humilhagens, preconceitos
Urdidura que cobre nossos sonhos e nossos corações sufoca

Mas um velho homem , um homem velho de barba longa e olhos espertos
Desafiou o medo

Formou seu clã
Gente de fibra
Que aprende enquanto ensina
Constrói sabiência coletiva
Que cativa com letras do dia a dia

Homens e mulheres que se sabem, não temem
Homens e mulheres com letras produzem espadas
Homens e mulheres sabedores são temidos pelos sistema
Combatem as injustiças

Oh velho homem que só agora conheço
Cresço com as mãos dos seus
Aqueço a forja
Fundo predicados, verbos imperfeitos, conjunções e advérbios
Vou moldar espadas-versos
Vamos rasgar esses medos
Correr nus e livros, livres e textos !
O algoz é pequeno quando sabemos !

Adriano Chastel.

De garras e de pétalas

Percevejos de lata e lodo emergem desse eclipse
Resquício de uma noite estanhada
Com um céu frio, duro e desestrelado
Insetos semi mortos, escória enfumada
A desfilar para ratos de patente e gravata
A desafiar a primavera crescente.

Conclamo as abelhas e formigas
As armadeiras e manduruvas
Os caracóis e os caramujos
Borboletas e mariposas
É hora de dessombrear o sol
É hora de alvorar as flores

Para os ratos, animais de pouca inteligência e muita covardia
Que venham jaguatiricas, suçuaranas e guarás
E muitos bugios, pregos e aranhas
É preciso mostrar as garras
Mas também a alegria.

Para as ratazanas de esgoto
Essas sim, de sombras e fel
Odeiam os céus e os escrúpulos
A Harpia, a Pintada, a Negra
A Jibóia, o Caiman, o Carcará e as Curicacas.

Tudo limpo ?
Vamos empinar arco-íris
Vamos seguir floreando
Vamos, sem descuidar, Vamos !

#forabolsonaro

Planfetos


Deveria escrever, ao pé da letra, um panfleto
A já ir chamado a jumento
Porém, o asinino, que culpa tem ?
A igualar a sarna do cão a generais
Pobre sarna, equiparada a farda !!
E o cão, rebaixado a ombro estrelado desses velhos boçais !!!!

Não me veste bem a diatribe
Nem me cabem as sandálias de ousadia!
( Tenho os pés pequenos)
Sou só um escrevente
Um aspirante a poeta, diminuto

Queria fazer um panfleto
Com versos curtos
E ajustadas rimas
Desses preguentos igual emplastro
Para ser repetido, nas ruas,
Nas praças declamado
Palavra de ordem nas marchas
Enquanto o povo incendeia os palácios.

Maldito talvez parido fui
E nem para isso tenho mão
Tenho essa caligrafia de escritor
Assim como
São Jorge a lança
Lampião seus jagunços
E pixote um 3 oitão


Não fazem, sentido, meus versos
As rimas sem continências
Algumas nas eiras
Outras nas beiras
Algumas ficam pelo chão
Iluminando baixios
Rasgando a sombra rasteira
Que cobre o caminho dessa nação.

Queria ser panfletário
Mas de certas lutas sou operário
Soldado raso sem grandificação.

Adriano Chastel.

O Lispectar da verdade

Verdades inventadas é o que temos
Mas não a verdade Lispectar
A verdade elegante, de chinelo e vinho
De terno de linho e céu
O que se entrega de real em sacos rotos:
-A falsa fala de um falso homem com sua faixa
( Sustentado pelos cegos, os centros, as fardas sujas, as rachaduras e as suásticas )

-Um agro verde, humano e pop
(Montado em seus venenos, seus jagunços, fogo, desterros e mortes)

-Um PIB altivo e vistoso
(Com suas garras nas costas do povo, a regurgitar-lhe quirera e ossos)

-Um País conservado em azul e laureado de rosa e moral
( Sobre o sangrar do arco-íris, sobre corpos pretos e peles vermelhas, infâncias pálidas , e mulheres reduzidas nas sombras a covas e estatísticas )

Limitada e terrível, somente a passível justiça
Que vive, opulenta e cega e torta, no tédio parlamental ou de toga.

Acredito que não era essa verdade inventada que pedira
No final, a única verdade, desse país, que resiste
É a perna curta da mentira !

Canto aos que encantam.

Por mais Paulos e menos Fria !!!!
Que cada artista com cifras bancárias estenda a mão
Oferecendo também os anéis .

Que cada Circo do mato, lutando com Flor e Espinhos
Tenham um grande caminho
E níquel para clarear no obscuro
Que Breno nunca seja esquecido
Que Jair baile, celeste, sobre o fascista, a já ir, caído.

Que Grupo de Risco seja somente um nome Teatral
Não sendo mais
O arco-íris alfabético
Os povos ancestrais,
A negritude seus filhos e pais,
As minas, as monas e as manas
O verde e os animais.

Que cada criança antes do palco da vida grande
Tenha uma Casa de Ensaio
Onde o Brincar é sério
E artes entrelaçadas os agigantem
Assim, passarinhos, não perecerão

E que toda rua desse país
Vá de Maracangalha
Cantadores de consciência
Artistas de terra vermelha
E de sangue justo

E há ainda todes aqueles
Que não me esqueço
que cantam, que dançam, que declamam, que escrevem, iluminantes, administrantes, brincantes, sonhantes

Pois a arte é precisa
No fazer cirúrgico
De avivar nossas almas
Para as lutas de todos os dias !
Evoé !!!