Se a fome bate nas panelas
Muito mais que três vezes por dia
Se as letras só chegam para tomar o coletivo
Para os livros elas caminham na escuridão
Se os números servem para dizer que ou se leva um osso ou três ovos trincados e zero de farinha e muito menos feijão
Mas eles diminuem para somar um mais um mais um mais tu mais eu mais nós mais eles mais voz até multiplicar uma multidão.
É preciso:
Bater palmas enquanto arrancamos pedras
Brindar e cantar à saúde dos senhores
E preparar coquetéis entre o sono e a sirene fabril
Mostrar gratidão pelo soldo de miséria
Afiando as facas e lanças
Esculpindo as bordunas
Amarrando bodoques
Acima de tudo
Aprender a ser ferrugem, umidade, areia, gotejo, cupim e maresia
Tudo o que cresce nas frinchas
Para explodirmos em primaveras
Para raiarmos liberdade
Para abraçarmos nossos horizontes.
Adriano Chastel