Lucíferes

A sombra única se alastra, escorre das frestas
Vestida de névoa como uma noiva pura
Abraça a luz
Com seus beijos cálidos e seu toque morno, seduz
Seus centos coturnos de bicos de aço já não andam calados
Marcham reluzentes de ódios
Quebram ossos e dentes
Gritam mentiras de ordem
Desejam inverter as verdades.

Pequenos fragmentos de um brilho fuscio
Pirilampos de razões e sonhos
Fagulhas livres de esperanças cientes
Estão a criar fogos
Fogos que ardem em corações poéticos, num pulsar rítmico,em corpos fortes e fluídos
Em sons que no breu ascendem aos ouvidos
Fogo
Que chama nos olhos coragem
Que nos beija nos lábios verdades
Alastrando nos músculos liberdades
Queimando nervos de igualdade e justiça.
Onde há fogo, há luz
Que sejamos lucíferes a calar coturnos
A despir as sombras
A brilhar nas frestas
A amar a terra
De vários tons e brilhos
Mas sem a sombra da dúvidas, sempre
Filhos da luz.

Adriano Chastel.

Centelha

Eu estou velho
Um velho homem velho
O fungo que cobre o meu sentir já tem seu próprio fungo a lhe cobrir
É esse orvalho ralo em galhos ressequidos as minhas memórias
O meu coração cansado já não se inflama
Nem diante das atrocidades humanas
Nem com a beleza cálida d’algum sorriso
Tão pouco com as cores quentes e agitadas de qualquer paixão
Ele segue nesse compasso
Meio passo para um lado
Um e meio para outro

A minha espada de tintas e rimas
É meu cajado enferrujado e quebradiço
E o brilho largo dos meus olhos vive preso
No opaco, das minhas retinas secas
Me resta de defesa a pele incrustada de tudo o que o vento dos gritos sofridos carregou
Me resta caminhar nesse charco de sangue e lágrimas que o ouro, agora inválido, criou
Até meus ossos estão enrrugados e curvos, rangem com velhas tábuas de um assoalho antigo
Pisadas por coturnos pretos de cidadãos de bem
Eu ainda existo pois
Em algum lugar do que já foi um cérebro altivo e agitado tem algo que ainda pulsa, vibra
Uma fagulha, uma faísca, uma centelha
Eu não sei se de esperança ou de teimosia
Ou se é a filha dessas duas
Ou é tudo o que restou
Daquilo que um dia , foi minh’alma.

Adriano Chastel.

Ociar-me…

Ociar-me…
Abandonar-me em mim
Sem tempos, nem ponto

Os papéis ao léu
Suas letras a desbotar na espera
Os capitães a estalar o couro trançado
Querendo entregar os ouros aos coronéis
Que entreguem meu sangue e meus pedaços desobedientes

Eu já não estou aqui e nem lá
Abandonei-me ali naquela grota
Entre a carótida e a aorta, talvez
Me pintei de vento
Me enfeite de mar
Quero me alimentar de beijos
Não quero subexistir para subviver
Quero amar as três  de um sábado
Quero aquele tabaco, do bom
E a brisa lunar em meus olhos estrelados.

Adriano Chastel

Recortes

Me refaço sorriso e feliz
Do ranço de seres vis.
Do fel que me alimenta
Sonho surrar o bom cruel.
A raiva me veste de esperança
A vingança me cobre em arco-íris.
Meu coração de paura
Tem aura dourada e púrpura.
A alegria diária
fruto de noites frias e fraturadas.
Sigo
Sigo nesse pântano
Colhendo flores calidas
Cravejado de espinhos e lágrimas secas
Há um amar em cada uma das sentenças…

Adriano Chastel.

Agora

Perdi a linha das palavras
O Horizonte está seco
Caminho sem chão
O que meus olhos enxergam
Turvas imagens me chegam
Numa profundeza escura
Que me esconde e sou
E aqui o sol está dormente e semi frio
É como um tiro que engasgou
Um botão murcho que desabrocha
Um vento que desistiu de correr
Água que hidrata a sede e me seca
Alma semi árida, semeada, se meada.

Adriano Chastel.

Desejos noturnos para o alvoroçar

Quero devastar os intermináveis campos verdes inférteis
De grãos, gados e dólares
Que só produzem papéis e ações.

Campos de fome e escravidões diversas

Quero arrastar na lama de vidros e farpas essa gente perversa
Que em uma mesa brega
Cheia de hienas velhas e velhos abutres
Plantam misérias e colhem fortunas
Entre tigelas de maldade e colheradas sarcásticas.

Gente vil, de gravata e chibatas.

Quero acorda meu povo
Desse ópio ótico televisivo
Quero corroer com palavras de doçura ácida
Essa algema-tela, esse cabresto cibernético
Esse feitor que nos obriga a olhos baixos e voz tabuada.

Se não há nas mesas macios pães
Que tenhamos pedras nas vidraças!

Quero incendiar
Mercados que vendem futuros
Levantam muros
E dizem que o mérito e o luxo é para quem trabalha duro.

Vamos !!
Quem labuta muito
Quem não tem tijolos
E tem um futuro de séculos passados
Vamos !!!
Não há balas e bombas para nós
Cento e noventa e cinco milhões de invisíveis.
Vamos !

Adriano Chastel.

Escolhas !

Há sim, uma difícil escolha;
Não é entre o bem e o mal
Ou perdão e ódio
Não é uma bifurcação antagônica
Não é seguir em frente ou buscar vingança
A escolha mais difícil que há
É quando temos que escolher entre semelhantes
Entre caminhos que se seguem
Espirais paralelos
Com horas côncavas
E dias convexos

Escolha !
Entre o amor e o amor
Entre o amor e o amor
Entre o amor e o amor
E o amor
E o amor…

Qual amor abandonado nos atirará dormentes ?
Qual amor engavetado não nos moerá por dentro?
Qual amor se voltará contra nós?
Qual o amor?
Qual o amor ?
Qual amor, amar?

Adriano Chastel.

Não é sangue, é moral.

Meus tais parentes de sangue
Apoiadores do genocida
Ou seguros sobre o muro
Tentando provar que, ou era 6,
Ou meia dúzia
Que dúvida !!!!

Arrependidos,
Se dizem enganados
Querem caminhar ao meu lado
Aviso:
No chão que eu piso
Não dá pé para indecisos
Nas curvas que minha vida trilha
Não há vão para minúsculos fascistas.

Arrependimento
Não traz centenas de milhares
Que partiram por 1 dólar a mais na vacina

Se dizer “enganado”
Não ajuda o pai que chora escondido
Ao ver a cria que afina sem arroz no prato

A “difícil escolha”
À mãe que enterrou seus filhos, não consola
Deixou uma geração de órfãos , País a fora
Embora só haja até hoje,
uma boa opção, meu bom cidadão.

E tem aqueles que se dizem de cristo
Que prezam pela tradicional família
Que comem hóstias ou estudam a bíblia, aos domingos.

Há vida na hipocrisia?

Meus irmãos, na mesma teologia fomos criados
Aquela que liberta, e que faz acolhida
Hoje nos mesmos terreiros sagrados
Somos benzidos
Em qual desses espaços santos
Com a morte foram vocês catequizados ?
Eu em nenhum,
E se estiver mentindo
Que me corrija Exu ou Xangô ou Ogum.

Nosso pai foi grevista
Abraçou os seus, no movimento paredista
Não se vendeu, nem foi pelego, ou capacho
Hoje com toda certeza é tido, comunista
De uma coisa tenho certeza
Nunca foi fascista, genocida, armamentista ou qualquer um dessa gente sem valor

Arrependidos!
O exemplo da escolha única e certa
Dividiu com vocês a ceia de domingo
É homem de Cristo
De coração puro
Deveria ser para vocês, tudo o que é justo !
Mas o voto de vocês, para ele e para o povo foi muito mais que um insulto
O voto é a morte, a fome e o luto.

( O perdão será divino, se o divino existir. Eu sigo como sempre segui )

Adriano Chastel.

Andrajos livres

As fardas não me cabem
Elas marcham ornadas de pré- juízos
estampadas de sentenças
Urdidas de violência gratuita
Tingidas de opressão e vilania
Capachas da burguesia e do poder.

Oprimem os que passam fome
E os que produzem os cobres
Matam sonhos que ainda esperavam nascer
Apagam memórias
Enterram verdades.

Cantam hinos hostis
Bradam seus gritos dementes
Se consideram a elite da tropa
São jagunços mal pagos e mal nutridos
Capitães do mato do capital e dos figurões do estado.

Eu prefiro a nudez das palavras sinceras
Eu prefiro a casaca remendada de poesias
Eu prefiro os trajes do loucos
E andar com malditos
Eu prefiro o fardo de ser pensante e livre !!

Adriano Chastel

#antifascista

Sobre pão

Os jornais pintam
Os que deixaram de comer pizza
O dono de três restaurantes sem trocar de carro
Família sem sua viagem de avião anual pagas em 12 vezes no cartão
Todos empobrecidos
Com cores tristes
Sobreviventes da crise pandêmica .

Por quais ruas caminha o jornalista ?
Quem não come pizza, ainda come pão !
Quem anda no mesmo carro, ainda compra pão !
Quem não viaja de avião, no tal cartão, à vista , paga o queijo, o presunto e o pão.

Quem preparou a pizza, ainda come pão ?
Quem produziu o carro , ainda compra pão?
Quem aparafusou a asa, o pão do dia ainda compra ?
Será que quem prepara as quatro da matina o nosso pão diário:
Algum dia pisou na pizzaria?
Tem será, carteira de motorista?
Já foi ver o avião descer na pista ?

Momentânea é a tal pandêmia
Alongada por negacionistas desvairados
Já a fome diária só não é eterna
Pois a vida finda
Até distintas , na crise , são as cores
Quem sobrevive
No lugar da pizza ,tem brioches.

#forabolsonarogenocida