Sob uma saudade

Meus olhos já não mais lhe beijam
Em meus lábios o silêncio vazio dos desenhos de suas peles
Meu caminho é sombra contínua e cotidiana
Não chego nunca ao nosso lugar de paz e amarelo- manhãs
Já não bebo neste mar de diabruras e sorrisos confidentes
Essa vastidão vestida de plenitude
Chamada abraço, agora é só uma distante e fina chuva
E tudo agora me é noturno ainda que meio dia , ainda que sol a pino e céu azul
E mesmo quando lhe vejo
Sinto que é despedida
Sinto me um despedaço.

Adriano Chastel.

Como cultivo saudades

Não é algo azul que dói
Tão pouco é ardor vermelho vivo
Saudade é vinho
Saudade é horta
Assim guardada em caverna sob aorta fresca
Assim semente em solo rico de amor e carinho.

Saudade é assim, um som pequenino,
Uma chuva fina, o chapisco do muro, Uma grafada frase ,na parede, fina
Um moleton folgado, um vestido curto
Um aconchego de braços, um ombro de lenço,
Dois cigarros divididos…

Uma distância vestida de campos,
Espaços achados entre ponteiros,
E tempos tatuados de silenciosos olhares.

Pedaços de nós
Apartados de nós
Carregados por nós
Sim,para cultivar saudades é preciso um semiplágio de um certo Chico
Um incerto adeus
Um sofá deserto
Saudades é de lugar árido inundado desse calor rouco e de tudo mais que ficou aqui para trás.

Adriano Chastel.

Saudade

Saudade
É
Poesia pronta
Dessas que começam amanhã
Duram até um instante depois de agora
Saudade não é de passado
De passado é lembrança
Saudade é de esperança
Espera
Do retorno
Da volta
Do reencontro
Saudade se cuida tal a vinhedo
Saudade é desejo
O prazer de provar
Da mesma uva
Novo vinho
Da mesma boca
Outros beijos
Outro aconchego
No mesmo abraço
Saudade é poesia que cuida
De todo o sentir, que dorme.